Filho de produtor de leite, o gaúcho Wilson Zanatta, de 48 anos, foi criado no meio das vacas (como ele mesmo gosta de contar). O trato constante com os animais também influenciou na escolha da profissão. Depois de se formar em veterinária, mais do que cuidar do rebanho, ele decidiu investir numa agroindústria de leite. Ainda hoje ele guarda a data do início das operações do Laticínio Bom Gosto: 11 de outubro de 1993.
Começou o negócio no pequeno município de Tapejara, no interior do Rio Grande do Sul, junto com a mulher Miria, quatro funcionários e 22 fornecedores de leite. Fazia queijo prato, mussarela e minas frescal, além de leite tipo C. A produção era vendida em Porto Alegre. Na boleia do caminhão Volkswagen 840, que comprou usado, ele percorria 350 quilômetros para chegar à capital gaúcha. A viagem de ida e volta durava cerca de 20 horas, porque ele precisava ir parando em cada mercadinho para fazer a distribuição dos produtos.
O micro empreendimento cresceu e se transformou num grupo que projeta faturamento de R$1,6 bilhão para este ano (o primeiro bilhão foi conquistado em 2008). Hoje, a Bom Gosto ocupa nada menos que a quarta posição no ranking dos maiores laticínios do Brasil, figurando numa lista encabeçada por gigantes como Nestlé, Perdigão e Itambé. O grande momento aconteceu em 2007, com a entrada do BNDES como sócio da empresa, por meio do BNDESPar. Capitalizada, a companhia foi às compras, apostando na aquisição de concorrentes. A mais recente foi a compra da fábrica da Parmalat em Garanhuns, por R$ 31 milhões, que marca a entrada do laticínio no Nordeste.
Bastante simpático, Zanatta concedeu entrevista ao blog, por telefone, da unidade de Garanhuns, onde esperava o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, para uma visita.
Como encontrou a fábrica de Garanhuns
Encontramos a unidade em boas condições, rodando bem. Mas vamos investir R$ 8 milhões para fazer uma revisão em alguns equipamentos. Algumas linhas ainda estão bastante modernas, como as de leite consensado UHT e tipo C. A que está mais antiga é a de leite em pó. Desde 1994 quando a Parmalat assumiu a indústria (após a privatização da Cilpe) foram investidos cerca de R$ 40 milhões. Por enquanto vamos continuar produzindo leite tipo C, longa vida e creme de leite. Para 2010, o projeto é reativar as linhas de iogurtes e bebidas lácteas.
Recuperação da imagem da empresa
Queremos chegar no Nordeste pela porta da frente. Por isso, estamos fazendo uma trabalho junto aos produtores de leite para apagar essa imagem negativa da empresa (fazendo referência aos antigos controladores, que deixaram dívidas com os fornecedores). Temos ligado todo dia para eles (os diretores da Parmalat), em busca de informações sobre os pagamentos.
Marca pouco conhecida no Nordeste
Outro desafio é que estamos começando do zero no Nordeste, onde a marca é pouco conhecida. No mercado nacional temos 12% de participação no segmento de longa vida. Mas aqui na região, nossa presença se limitava ao queijo com a marca Boa Nata e o leite em pó Bom Gosto. No começo de abril vamos iniciar uma campanha publicitária com peças em rádios, jornais e revistas para divulgar a marca. Hoje, São Paulo (interior e capital) responde por 50% das nossas vendas. Queremos que o Nordeste represente pelo menos 10%. A fábrica de Garanhuns deve faturar entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões, mas sabemos que ela tem potencial para R$ 150 milhões.
Oferta de leite
Pernambuco tem um déficit de 400 mil litros de leite por dia e precisamos contribuir para aumentar a produção do Estado. A Parmalat chegou a ter mais de 900 fornecedores. Hoje temos algo entre 500 e 600, em Pernambuco e Alagoas. A fábrica tem capacidade para processar 500 mil litros de leite por dia, mas a nossa captação está em 180 mil l/dia. Esperamos que esse volume suba para 300 mil l/dia até o final do ano.
Iniciamos conversas com o governo do estado, inclusive ontem participamos de reunião na Ceasa, para discutir a introdução de matrizes mais produtivas, o incremento da produção de palma e a reativação de bacaias leiteiras, como a de Exu. Tudo isso para melhorar a qualidade do rebanho e aumentar a produção. Hoje, estamos pagando cerca de R$ 0,72 pelo litro de leite ao produtor.
Crise mundial
O setor ainda não está sendo pouco impactado pela crise e eu espero que ela passe logo. Como estamos capitalizados, não temos problema de caixa, mas adiamos alguns projetos. Um deles é a entrada na bolsa de valores (inicialmente prevista para 2010). Agora isso deixou de ser prioridade, vamos jogar essa estratégia mais para frente. Também vamos segurar as aquisições e consolidar a estrutura que temos hoje. (A Bom Gosto fez fusão com a Líder Alimentos, do Paraná, e já tinha adquirido empresas como Nutrilat e Corlac , do Rio Grande do Sul, Laticínios DaMatta e Laticínios Santa Rita, de Minas Gerais, além da Parmalat, de Pernambuco).
Internacionalização
Em abril vou ao Uruguai para encontrar um novo terreno para a fábrica de leite que vamos construir lá, com investimento de US$ 30 milhões. O lugar que nos ofereceram não tem disponibilidade de água. Vamos manter o projeto na cidade de San Jose de Mayo, que é o centro da produção de leite do país, mas a localização será outra. Em função desses problemas de percurso e da crise, a inauguração deve ficar para o final de 2010 ou início de 2011.
Egoísmo do empresário
A entrada do BNDES não só ajudou a capitalizar o grupo, mas também a aperfeiçoar a gestão. Muitas vezes os empresários têm uma visão egoísta do negócio, do tipo: eu criei, eu enriqueço e eu quebro. Hoje, o BNDES tem participação de um terço no negócio e isso trouxe muitos ganhos para nós.
O tamanho do grupo
Hoje nós temos 19 fábricas espalhadas pelos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Somos um grupo que deve faturar R$ 1,6 bilhão este ano, geramos 2,8 mil empregos e captamos 3 milhões de litros de leite por dia.
A concorrência da Perdigão em Pernambuco
Já concorremos com a Perdigão lá no Sul. Assim como a nossa, é uma empresa profissionalizada, que vai ajudar Pernambuco e o Nordeste a progredir na atividade leiteira.
Hobby e xodó
Gosto de fazer cavalgadas, de participar das provas de laço nos rodeios e de marcar presença nas feiras agropecuárias. E também tenho as minhas vacas preferidas. Uma delas é a Gracinha (uma vaquinha holandesa) que já foi três vezes campeã da principal feira agropecuária do Rio Grande do Sul.
* A foto do post é de Caco Argemi, cedida pela Porto Press (assessoria de comunicação da Bom Gosto)
quarta-feira, 25 de março de 2009
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